22.2.17

On writing

Antes de começar a buscar sobre a escrita, eu não tinha ideia de como o processo seria. Aliás, até tinha: a mesma fantasia que muitas pessoas tem: um escritor, sentado em frente ao computador (ou olhando para um caderno ou maquina de escrever, depende do quão romântica é essa fantasia), um copo de café ao lado, óculos caídos no meio do nariz, cabelos ligeiramente desarrumados e palavras sendo digitadas, ou escritas, furiosamente, uma atrás da outra. A musa de inspiração não permitia que o escritor parasse. No final, tudo seria impresso e com uma caneta vermelha poucas alterações seriam feitas: uma palavra errada aqui, uma frase melhor construída ali, etc.

Meu primeiro contato foi quase isso: sentei e escrevi, escrevi, escrevi. Tomei doses cavalares de café, enquanto ouvia uma música baixa no fundo. Fui dormir, satisfeita comigo mesma e sonhei com noites de autógrafos, festas com outros escritores, conversas presunçosas... Então eu acordei. E quando acordei e reli, quase quis jogar as páginas, o computador e até a mim mesma dentro do lixo.

Era tudo tão cru. As palavras eram estúpidas demais, meus personagens não faziam sentido, as frases pareciam escritas por uma criança de cinco anos e eu me convenci que eu não poderia ser uma escritora. Eu não tinha o talento.

Ah, talento. Depois de algumas (muitas) horas de conversa na minha cabeça, e muitos anos a mais, me convenci que talento é quase um conto da carochinha. Ele está na mesma prateleira dos unicórnios, alienígenas e ornitorrincos: Até existe de vez quando, num tempo muito longínquo, descrito em livros antigos como criaturas místicas e isoladas.

E então eu desisti.

Em 2014, eu acho, participei do nanowrimo pela primeira vez. Infelizmente minha história era quase uma cópia versão herbert richards de livros que eu amava muito. E eu desisti nas 42 mil palavras, mais uma vez dizendo para mim mesma que eu não conseguia.

Em 2015 eu escrevi meu primeiro livro. Ok, não exatamente meu, era em conjunto com um outras pessoas. E não era um livro, era uma monografia. E ainda assim, eu escrevi. Eu provei a mim mesma que conseguia terminar de escrever alguma coisa.

Em 2016 eu participei do nanowrimo (e documentei tudo aqui) e dessa vez eu ganhei. A sensação foi um pouco engraçada: é como se você ganhasse uma maratona, mas sem a medalha e fotos ou reconhecimento. Mas eu ganhei e isso foi importante para mim, pois eu provei que conseguia escrever uma história própria, sem ajuda das outras pessoas. E nesse processo, meu entendimento sobre a escrita e todo aquele cenário mudou um pouco.

A escrita já não é uma coisa feita só por pessoas talentosas. Como qualquer coisa na vida, você precisa estudar e dedicar uma grande parte do seu tempo em fazer algo que não é tão legal assim para conseguir fazer a coisa realmente legal de uma maneira positiva. Você não começa correndo a são silvestre e talvez você até sobreviva uma vez, mas isso não faz de você um corredor profissional.

Então eu comecei o processo não tão legal disso. Eu comecei a estudar. Li o livro do Stephen King e não achei tão bom assim, então li outros e outros. Li incontáveis posts de escritores em seus blogs, li sobre construção de personagem, li sobre montagem de narrativas e pesquisei sobre temas obscuros que talvez tenham me colocado na listinha especial da segurança nacional.

Depois que o nanowrimo acabou, me comprometi a revisar e continuar escrevendo.

E eu abandonei meu projeto.

Uma parte foi preguiça mesmo e as desculpas foram se acumulando: eu queria descansar um pouco e depois eu estava sem tempo e depois meu computador quebrou. E a outra parte era o medo, de abrir aquele documento e ser igual quando eu era mais nova e descobrir que tudo tinha ficado realmente horrível e um mês tinha sido jogado no lixo.

Se tem uma coisa que o processo da escrita é: cheio de dúvidas. Ouso dizer que a parte mais difícil é calar seu critico interior que gosta de te lembrar o quanto as outras pessoas são melhores do que você e como ninguém gostaria de ler sua história. A crítica que nem existe de verdade é uma das coisas mais difíceis que você precisa superar para continuar escrevendo. Claro que auto critica é importante para que sua escrita seja boa e você não tome decisões erradas e saiba quando cortar uma coisa errada, mas a crítica sem motivo é bem difícil de identificar e afastar.

Eu coloquei no meu habit tracker do bullet journal "escrever". E cada dia que eu escrevo eu marco um xiszinho lá e fico mais perto de fazer tudo mais uma vez. Para ser sincera, eu não gostei muito das primeiras cenas que eu escrevi. Quer dizer, a história está correta e seguindo seu rumo, mas as palavras não são certas, não mais.

O que é ao mesmo tempo desesperador, mas também é muito bom, afinal eu sei que eu posso fazer melhor que aquilo.

Então, querido leitor, eu cometi um erro: eu mostrei minha história para alguém. Não que isso seja um erro horrível, mas eu não sou do tipo que discute muito sobre isso. Até mesmo meu namorado sabe que eu escrevi alguma coisa no nanowrimo, mas não sabe nada sobre isso.

Pra ser sincera, eu esperava que meu amigo me falasse "isso é a melhor coisa que eu já li!" e eu ficaria feliz, sorrindo e sentaria para escrever certa de que estava no caminho correto. Só que ele não falou isso, é claro. Me deixei levar pelas minhas fantasias outra vez. Ele só disse que imprimiu o texto e tinha várias dicas para me dar.

No mesmo momento meu coração apertou e pensei: sou uma farsa. E ele não chegou a me dar as dicas, já que não deu tempo de conversar, mas isso me congelou. Ainda assim, no dia seguinte eu abri meu documento e escrevi.

Porquê é isso que acontece, e demorou algum tempo para que eu percebesse, mas eu percebi: eu preciso contar essa história. Eu preciso provar para mim mesma que eu consigo. E conselhos e dicas são bem vidas. Vou continuar a ler sobre a escrita e continuar estudando. E talvez um dia eu publique um livro. Ou não. E a vida continua.

Essa é a real sobre a escrita: ela é dolorida e cansativa, nada glamurosa e muitas vezes solitária. Você precisa esquecer sobre as fantasias que tem e precisa dar duro, mesmo (ou principalmente) quando você pensa em desistir.

We are writers and we keep on writing.

17.2.17

Both Sides Now

8.2.17

A vida tem dessas

Volta ou outra, enquanto converso com meu namorado ele solta, depois de eu lhe relatar algum infortúnio que aconteceu: "A vida tem dessas".

De fato, a vida tem muitas dessas. Tem alergia que ressurge das cinzas (pelo lado bom: ela pelo menos deixou eu passar meu ano novo tranquila). E ela reaparece coçando e ardendo. E me fazendo questionar muita coisa da minha vida.

Tem médica que atrasa consulta em uma hora e que nunca te dá uma resposta final. As vezes me pego pensando que os médicos são apenas gente como a gente e não tem ideia do que estão fazendo da vida: eles acordam, tomam café da manhã e olham o problema, dando a melhor solução possível (ou a mais fácil). Só que essa ideia é um pouco medonha.

A vida tem também computador que quebra do nada. Depois de sete anos juntos, fui abandonada. Tem também suporte e assistência dizendo que não existem mais peças depois de "tanto tempo" (mas gente, quando que sete anos é muito tempo?). E tem gente desesperada tentando juntas dinheiro como pode para conseguir outro. E nem pensar nos arquivos que estavam lá. yay.

Tem também esquecer completamente a senha do banco, ter que ir até uma agencia e esperar uma gerente que te dispense em cinco minutos e ainda te dá várias informações erradas.

Tem loja virtual que troca seu pedido com de outra pessoa e não faz absolutamente nada para trocar, te enrola por dias e dias, fazendo você correr atrás das pessoas e só te enviam o vestido certo depois que você ameaça cancelar o pedido.

E enquanto eu almoçava, amarga com o que talvez seja um inferno astral, apesar de não acreditar muito nessas coisas, me surgiu na mente a pergunta: será que alguém, no mundo inteiro, tem ideia do que está fazendo? Ou será que está todo mundo nessa, acordando, indo dormir, comendo e tentando?

E eu tento focar nas coisas positivas.
A alergia não está pior do que da ultima vez.
A médica demorou, mas realmente se importou e tentou ajudar, me tratando como um ser humano.
Eu tenho sorte de ter dinheiro para comprar outro computador.
Eu vi La La Land e foi lindo.
Eu já sei que não dá para se estressar muito.

As vezes a vida tem dessas. E a gente não sabe muito bem o que fazer. A gente só continua para ver o que mais essa vida tem.

2.2.17

Lidos: Janeiro (2017)

E mais um ano começa. E cá estou eu pra continuar dividindo minhas leituras. Esse ano quero ler 70 livros. Já pode entrar em pânico? Pode.
Só que pra ser sincera eu li muito mais do que eu esperava para esse mês. Eu tive um curso que não me deixou com muito tempo para ler e acho que se eu não tivesse começado uma série tão legal eu teria lido bem menos. Li cinco livros em inglês e quatro em português, uma HQ e um livro fora do eixo EUA-Inglaterra, da Elena Ferrante.
E me preocupei em fazer resenhas mais completas. Estou tão feliz comigo mesma!



#1The Encyclopedia of Early Earth | Isabel Greenberg | EN | ★★★★★
Follow your gut, Storyteller, it will lead to your happy ending.
Comecei o ano lendo essa HQ super fofinha que é uma história de histórias.
Vai falando sobre um casal que não pode se tocar, ele é um contador de histórias e conta as histórias da sua vida e das aventuras, começando com como suas três mães dividiram sua alma em três, assim cada uma poder cuidar de um menino como bem entendesse. Só que um pedacinho dele se perdeu e como ele buscou no mundo inteiro pelo pedaço perdido. E acabou passando por muitos lugares e conhecendo várias pessoas.
E nos tempos em que estão casados, a maneira de se aproximarem, já que não dá para se abraçar e ficar juntinhos, é de contar essas histórias sobre o que aconteceu com ele enquanto buscava seu pedacinho perdido de alma. Afinal ele era o contador de histórias oficial da sua vida. E ele conta as histórias de sua vida, assim como a história dos povos que ele visitou, mostrando que somos sempre iguais e diferentes. E é lindo. É bem interessante ver como cada povo tem suas crenças e sua cultura, a história de como surgiu aquela terra e quão bem é retratada essa diferença no livro, mesmo que isso seja difícil no formato de HQ, mas sempre com uma pegada leve e divertida.
Achei a história principal, dele buscando um pedaço de si mesmo do outro lado do mundo, muito interessante. Não estamos sempre encontrando novos pedaços de nós mesmos por ai?
Outra coisa muito legal sobre a história é o senso de humor. Me peguei dando risadas altas enquanto lia.
A edição também é diferente da maioria das HQ's já que as páginas são grossinhas e opacas. O traçado é bem diferente também, bem simples, assim como as cores usadas. Talvez por isso chame tanto a atenção. Não são luzes e sombras e cores fantásticas, é tudo muito sóbrio e combina com a história.

#2A Amiga Genial | Elena Ferrante | PT | ★★★★☆
Em 31 de Dezembro de 1959 Lila teve seu primeiro episódio de desmarginação. O termo não é meu, ela sempre o utilizou forçando o sentido comum da palavra. Dizia que, naquelas ocasiões, de repente se dissolviam as margens das pessoas e das coisas. 
Eu ouvi falar da Elena Ferrante no ano passado. Aparentemente ela é uma escritora reclusa que ninguém sabe de verdade quem é ou sobre o passado dela. Fiquei intrigada por ela ser italiana e resolvi ler essa série.
A história segue a Elena e a Lila, duas amigas, morando em Napoles em uma vizinhança não tão bonita. No prólogo dá a entender que a Lila some e eu filho, todo dramático, fica atrás dela. Então Elena diz que sempre soube que ela faria isso, e começa a contar sua história.
Uma das maiores surpresas foi o quão relacionável esse livro foi. Óbvio que é difícil se relacionar com livros, principalmente se você lê bastante fantasia ou sci-fi como eu. Você até se relaciona com um personagem ou outro, ou um pouco de uma situação, mas nada como esse livro. Eu senti minha infância nesse livro, uma menina pequena tentando ser a melhor da sala e percebendo que na vida real inteligencia e notas altas não significam quase nada. E revivi como foi estar, mais uma vez, ao lado das minhas amigas que eram MAIS do que eu. Mais bonitas, mais inteligentes, mais chamativas, mais desejadas. Essa pequena competição que o mundo nos dá quando se nasce com o sexo feminino.
Ela retrata isso do ponto de vista da Elena, observando sua amiga Lila, que é sempre mais. E ela retrata toda essa inveja, desejo e insegurança da Elena de um jeito tão bonito e legal.
Um ponto negativo é que o livro é devagar. Pelo que eu entendi, cada livro da série se passa por um período da vida delas, da infância até a velhice, quando Lila desaparece, como dito no prólogo. E esse livro vai da infância até mais ou menos os 17 anos. E não é que esse seja um período chato, mas sinto que me identificarei mais com o próximo, lá pelos 20 e poucos. E fico com medo do que vou encontrar.
Os personagens são bastante reais e por estar na perspectiva da Elena, nem sempre as impressões são confiáveis. Não dá para ver de verdade como a Lila se sente e seus pensamentos, mas seria bem interessante ver por esta perspectiva.
Fiquei muito impressionada com esse livro. Quero muito ler a continuação.

#3Falling Kingdoms | Morgan Rhodes | EN | ★★☆☆☆
Even paradise could become a prison if one had enough time to take notice of the walls.
Sempre fui curiosa com essa série, e quando vi resenhas positivas de pessoas que eu confio, me animei. Mas acabei me decepcionando um pouco.
Seguindo quatro perspectivas (ou quase três, já que Lucia mal tem voz) de Cleo, a princesa, Jonas, o menino que tem seu irmão assassinado, Lucia e Magnus, uma dupla de irmãos meio estranha, no continente de Mytica, dividido em três reinos, Limeros, Paelsia e Auranos. O "amigo" babaca de Cleo mata o irmão do Jonas e é daí que a trama se desenrola, com o pessoal de Paelsia (Jonas) puto com o pessoal de Auranos (Cleo) porquê eles tem... mais. Sim, eu entendo que a raiva vai de um povo que passa dificuldades imensas, que não tem quase nada, para um povo que aproveita sua situação favorável para fazer o que quiser e o assassinato de um menino por uma razão estupida é o estopim.
Mas eu não comprei essa razão. Talvez porquê tudo isso aconteça no primeiro capítulo do livro, bem antes de eu poder sentir essa raiva, que é apenas contada de um jeito mais ou menos.
Ou seja, a autora te joga no mundo (o que é corajoso e funciona de vez em quando), mas não sabe contextualizar o suficiente para que você não fique perdido, olhando para os lados, tentando entender o que esta acontecendo.
Talvez esse seja o maior problema do livro pra mim, agora que eu entendo um pouco mais sobre escrita (não querendo ser "super entendedora", mas já sendo. Se eu gastei tempo lendo sobre isso, é para usar na vida): a autora conta muito mais do que mostra. O que faz com que os personagens sejam meio bidimensionais, sem profundidade alguma. Aliás, o mais desenvolvido foi o Magnus e não de uma maneira muito positiva. Ele tem uma paixão meio Jaime Lannister pela irmã, que você saca logo no começo e ao invés de ser algo que te cause uma angustia de amor proibido só me fez ficar com um pouco de nojo. Porém agradecemos qualquer desenvolvimento de personagem que conseguimos, mesmo que seja para o lado negativo.
Os personagens secundários são quase recortados do papelão e colocados na história, daqueles que você pode ver a autora atrás, dizendo as falas dele, pedindo para não ser notada. O melhor amigo apaixonado da Cleo, que é engraçado e todos o amam. O pai malvado de Magnus e Lucia, que pratica o amor abusivo com os filhos. A madrasta (?) má que tem segundas intenções e quer dormir com qualquer um que garanta poder para ela. Ou a serviçal seduzida que não percebe a indiferença do príncipe. O melhor amigo que se salva de fazer burrice. O clássico da fantasia: a pessoa que tem mágica que não tem mágica de verdade. Enfim, eles são muito clichês. E pelos clichês, você já sabe o que vai acontecer com o enredo.
Logo, o enredo seguiu por onde foi esperado, naquele caminho pré definido que dava para ter visto do começo do livro. As reviravoltas já eram esperadas, tanto pelo forshadowing quanto pelos clichês dos personagens. O insta-love que tem é bem estranho para mim e eu não comprei nenhum ship existente. A não ser que haja Cleo/Jonas, que nem interagem, mas sou fã do inimigos que se amam.
Talvez eu gostasse mais do livro se eu não tivesse lido tanta fantasia na minha vida. Eu conheço as regras, eu já vi do que esse gênero é capaz e esse não chegou perto. Para quem está começando pode ser que agrade. Ou se eu não conhecesse sobre as escrita e reconhecesse quando a autora está sendo preguiçosa e sabe que escrever "eles passaram dias andando, todos amavam o Fulano" é mais fácil que descrever parágrafos disso.
Eu não sei se vale a pena ler o segundo, apesar de ter uma certa curiosidade. Quem sabe.



#4A vida secreta das abelhas | Sue Monk Kidd | PT | ★★★★☆
Quem acha que morrer é a pior coisa do mundo não sabe nada sobre a vida.
Esse livro foi muito querido.
Seguimos a Lily, logo quando ela completa 14 anos. Quando criança, ela atirou em sua mãe a matou, sem querer, e desde então ela mora com seu pai, que está muito longe de ser amoroso e gentil. Depois que sua empregada Rosaleen, é presa injustamente, as duas fogem para Tiburon, na Carolina do Sul, seguindo pistas que a mãe de Lily deixou de lugares que ela passou. Lá elas vivem com August, May e June Boatwright, mulheres negras que cuidam de um apiário.
Esse livro é girl power. É sobre como mulheres, e só mulheres, tem o poder de suportarem umas as outras e de nos ajudarmos nas piores horas. De como a gente olha uma para as outras e nós sabemos. De como nós entendemos umas as outras e de como sororidade é importante.
E também por se passar nos anos 50, nos sul dos Estados Unidos, mostra o racismo presente na sociedade daquela época (e que infelizmente ainda não foi completamente extinto). Eu sou branca. Eu nunca saberei o que é racismo, não de verdade. Mas me ajudou a ter uma boa ideia de quão horríveis as pessoas podem ser. E quanto o racismo está tão enraizado que até mesmo alguns pensamentos "normais" carregam grande significado por trás. E você se sente mal, fisicamente, por saber que existem pessoas que sofrem assim todos os dias.
Acho que estes são os grandes pontos positivos do livro: as relações entre as mulheres e entre as cores. A parte religiosa me pareceu um pouco forçada, mas eu entendi porquê ela precisava estar presente.
As personagens são bem construídas, principalmente a Lily, a August e a Rosaleen. A May é tão linda e sensível que eu sinto que queria abraça-la e falar que ia ficar tudo bem.
E ele seria cinco estrelas, se não fosse um detalhe que me incomodou muito: as pessoas negras são sempre secundárias. A história não é sobre elas, apenas usa esse pano de fundo. Não que isso seja um problema do livro em si, mas acho que seria interessante se aprofundar na história delas mais. Já virou um gênero: mulheres brancas com problemas, usando negras como plano de fundo. Acho que já passou da hora de lermos sobre as mulheres negras não é? Como eu disse, não é um problema do livro, mas gostaria de ter visto as mulheres serem mais desenvolvidas e terem sua própria voz.
Outra coisa é que os problemas do pai da Lily quase não são abordados. Ele não tem dimensão, até o finalzinho. E ainda assim, só temos um vislumbre. Isso atrapalha um pouco quando ele é colocado como o vilão.
No final eu achei um livro maravilhoso e tocante, sobre mulheres que ajudam mulheres e sobre onde encontrar forças quando não dá mais para continuar e precisamos de um ombro.

#5O Lago das sanguessugas | Lemony Snicket | PT | ★★★☆☆
Roubar não é desculpável, por exemplo, se a pessoa está num museu, resolve que um determinado quadro ficaria melhor em sua casa e simplesmente leva o quadro para casa. Mas se a pessoa está morrendo de fome e não tem outro meio de conseguir dinheiro, é desculpável que ela leve o quadro para casa e o coma.
Quando eu era mais nova, vi o filme que saiu de Desventuras em Série e gostei muito. Era um filme para criança, mas um pouco mais dark, meio Tim Burton. Sempre quis ler os livros, mas quando vi que cada livro custava em média 30-40 reais (quando nem tínhamos Amazon pra nos salvar) eu acabava sempre deixando para comprar depois e depois e depois.
O filme pega a história dos 3 primeiros livros, então até o final deste, eu sabia a história. Já a nova série que sai na Netflix esse mês vai cobrir até o quarto livro, então resolvi acelerar e ler até o quarto para ver a série.
O Lado das Sanguessugas continua seguindo os órfãos Baudelaire em suas desventuras, dessa vez eles são confiados a tia Josephine, uma senhorinha muito simpática, medrosa e obcecada com a gramática.  Ela perdeu seu marido afogado no lago e desde então esse se juntou a sua coleção de medos.
O livro é curto (180 páginas com diagramação bem tranquila, afinal é infantil) e eu li em 2 sentadas. E ainda assim consegue ter uma profundidade muito legal. O humor é sempre o ponto alto desses livros, em especial as falas da pequena Sunny (amo de paixão!). Outra coisa muito legal são as explicações de palavras mais "difíceis" explicadas de uma forma divertida e literal.
O Conde Olaf continua malvado, seguindo os três irmãos, tentando colocar a mão em sua fortuna. Ainda sinto falta de descobrir o mistério maior, aquele que os pais dos Baudelaire também estavam envolvidos, mas sem sinal de resolução.
Uma coisa que me deixou um pouco incomodada é seguir a formula. Esse é o segundo livro aonde a fórmula é colocada, então não é algo crítico (ainda). Mas imagino que seguir 12 livros de morar com parente > Conde Olaf aparece > ninguém sabe que ele é o Conde Olaf > algo acontece com o parente > sem lar seja um pouco cansativo. Espero que mais pra frente surjam enredos diferentes. Ainda assim é bem legal que ele inclua a morte de uma maneira leve, mas séria. Acho que é importante entender o que é a morte desde criança.

#6Serraria Baixo-Astral | Lemony Snicket | PT | ★★★★★
Por exemplo, se um otimista tivesse o braço esquerdo arrancado por uma dentada de crocodilo, diria, num tom de voz simpático e esperançoso: "Bem, afinal não foi tão ruim. Não tenho mais o meu braço esquerdo, mas em compensação ninguém nunca me perguntará se sou destro ou canhoto".
Preciso ser sincera que fui com medo desse livro repetir a fórmula dos dois anteriores. Felizmente não seguiu! Nesse livro o trio Baudelaire vai parar em uma serraria, seu novo tutor é uma pessoa misteriosa e os obriga a trabalhar na serraria e além de ter que fazer um trabalho pesado o dia inteiro, eles são pagos com tickets, almoçam um chiclete (tadinha da Sunny já que bebês não podem mascar chiclete!). Em troca disso o tutor promete que dentro dos portões eles estarão seguros do conde Olaf.
Um dia, Klaus quebra seus óculos e precisa ir para o oftalmo, que mora numa casa muito parecida com a tatuagem do conde Olaf. E é claro que nessa série nada dá certo para essas crianças, não é?
Acho que os personagens secundários desse livro foram um ponto altíssimo. O moço super otimista, o sócio sem muitos direitos do Senhor (o "nome" do tutor deles) agregaram no livro, trazendo um humor engraçado.
Fiquei surpresa em descobrir que as pessoas acham esse livro o mais fraco. Eu gostei até mais que o último. E foi o primeiro que eu não sabia o que ia acontecer, já que o filme só cobriu os eventos do terceiro livro. E depois porquê saiu um pouco da fórmula. O próprio Lemony Snicket diz que esse é o livro mais terrível e realmente me parece o pior do ponto de vista das crianças. Mas gostei muito!
Eu pretendo comprar os outros livros e lê-los logo em sequencia. Eles são bem curtos e deu para ler em dois dias cada um. Só fico chateada de já ter 4 livros e perceber que o box sai mais barato do que comprar o resto separado. Ainda bem que meu aniversário está chegando.



#7The Demon King | Cinda Williams Chima | EN | ★★★★★
“History," Mari muttered, as if she'd overheard his thoughts. "Why do we need to know what happened before we were born?"
"So hopefully we get smarter and don't make the same mistakes again.”
Acho que quando você tem uma "bagagem" de histórias do seu gênero preferido você tende a comparar bastante e não se contentar com pouco. Eu posso falar que The Demon King conseguiu me satisfazer e ainda me impressionar!
A história segue dois pontos de vista: Han Alister, um ex-ladrão e ex-chefe de gangue que possui braceletes misteriosos e que acaba se envolvendo de uma maneira ruim com um amuleto mágico e Raisa ana'Marianna, a princesa herdeira do reino, que luta suas próprias batalhas contra sua mãe, seus possíveis futuros maridos e as outras pessoas do castelo, enquanto descobre que seu reino não é só flores e unicórnios (estou brincando, não tem unicórnios nesse livro. Infelizmente).
Esse livro poderia ter caído em vários clichês: triângulos amorosos, princesas rebeldes, o bad-boy de bom coração, mas ainda bem que desviou de todos eles. A princesa é aventureira e sabe o que quer da vida, mas tem consciência do que é melhor para o reino. Ela fica atraída por vários homens e não achei isso ruim. Não é um insta-love e sim uma menina de 16 anos que não quer ter responsabilidades e quer beijar uns gatinhos. Ou seja, várias meninas de 16 anos. E isso é real.
E Han saí desse estereótipo, ele não trata as pessoas de maneira mal porquê tem um passado ruim e isso torna suas atitudes "desculpáveis". Ele é complexo e gentil, mesmo fazendo coisas estupidas de vez em quando.
Ou seja, sim, os personagens são um dos pontos mais altos desse livro. Até os personagens secundários e vilões são bem construídos e foi ótimo ler um livro assim.
Outra coisa muito positiva foi a construção de mundo. Dá para ver que a autora pensou muito sobre a criação desse mundo, desses povos, nas tradições deles e até nas linguagens. A história do mundo e da religião são profundas e, como são na vida real, nem sempre bem explicadas ou iguais para todos. O sistema de magia não é dos mais complexos, pelo menos não no que pudemos ver nesse primeiro livro, mas gostei como ela combina high magic com magia elemental. Não é diferentão como Mistborn, mas é diferente o suficiente para ser intrigante.
Uma das coisas mais positivas para mim foi a escrita. Ela é descritiva o suficiente para te imergir, mas não exagerada para te fazer revirar os olhos e falar OH GOD WHY, tenho mais coisas na vida para fazer.
Uma das coisas que acontece muito comigo quando há pontos de vista diferentes é que eu acabo querendo ver mais um do que o outro, mas não aconteceu nesse caso. Eu queria ver os dois personagens e suas histórias.
E fazia tempo que eu não acabava um livro de série e precisava começar o outro em seguida! Ainda bem que consegui o box barato na amazon!
Ou seja: é uma ótima fantasia YA, com um toque sombrio, uma história rica e interessante, com um pouco de romance e um ritmo muito legal. Se tornou uma favorita com certeza!

#8 The Exiled QueenCinda Williams Chima | EN | ★★★★★
(com spoilers de The Demon King)
But it's not enough to know right from wrong. You need the strength to do what's right, even when what you want most in the world is the wrong thing.
Com o final do primeiro livro eu precisei ler o segundo imediatamente depois que eu terminei. Eu precisava saber o que ia acontecer.
A história segue depois dos acontecimentos do primeiro livro, com a princesa exilada Raisa seguindo para Oden's Ford por um lado e Han e Dancer, indo para o mesmo lugar, por outro caminho. Tenho que dizer que, pela sinopse, eu esperava que a parte da viagem fosse resumida em alguns capitulos e na verdade ela toma umas 150 páginas. Não que eu esteja reclamando, eu achei que a autora conseguiu manter um ritmo muito bom (o que pode ser difícil quando você fala de viagens em livros, normalmente muito repetitivas). Chegando em Oden's Ford, Raisa começa a escola militar, aonde ela precisa provar o seu valor para os colegas, professores e reituores (os sulistas são a maioria dessa escola e eles não gostam nem das pessoas do norte e nem de mulheres. YEY). E Han começa na escola de magia de Mystwerk, com um novo professor misterioso que tenta ensinar magias novas e avançadas para ele. Até que Raisa (disfarçada de Rebecca) encontra com Han.
Esse livro foi tão bom (ou melhor!) do que o primeiro. O relacionamento da Rai com o Amon mudou bastante e se torna mais real. É bem triste na verdade, mas acho que combinou com a trama da história.
Só que minhas partes preferidas foram as do Han. Descobrimos um pouco mais sobre a magia e eu diria que o sistema ficou mais complexo e interessante. Não diria que tudo foi óbvio, mas não foi uma surpresa muito grande.
E, como no livro anterior, os personagens secundários continuam a ser lindos e contribuírem muito para a história. Você sempre fica com um pé atrás pensando se tal personagem é um amigo ou inimigo ou se ele pode ter segundas intenções.
Uma reclamação fica por conta do romance. Acho que eu estava tão animada para que ele acontecesse que achei meio fraco quando aconteceu alguma coisa. Penso que a autora se demorou bastante no começo e ela poderia ter tomado um tempo maior para mostrar o romance entre esses dois personagens florescer de maneira satisfatória.
É claro que, no final das contas, eu amei esse livro. Eu devorei e parti para o próximo sem nem pensar duas vezes. Só pressinto que o final dessa série vai trazer a famosa ressaca literária.

#9 The Gray Wolf Throne | Cinda Williams Chima | EN | ★★★★★
(com spoilers de The Demon King e The Exiled Queen)
Do not forget duty. But choose love when you can.
Continuando a série Seven Realms eu li The Gray Wolf Throne. Agora acompanhamos Han voltando ao norte, procurando rastros de Rebecca. Já Raisa/Rebecca, escapou dos Bayar e segue por conta própria para o seu próprio reino, antes que seja tarde demais e sua mãe coloque sua irmã mais nova como herdeira do trono e faça-a se casar com Micah.
Eu li esse livro numa velocidade impressionante! Acho que entre os três primeiros da série ele é o que possui mais ação, mais eventos e mais intrigas. Acompanhamos a dura volta de Raisa para o seu reino, que vem acompanhada de muitos perigos, sem saber em quem ela pode confiar. E também vemos quando Han descobre que Rebecca na verdade não é quem diz que é.
Como eu escrevo as resenhas logo que termino os livros, sinto que caio na rotina de falar "Esse foi meu favorito!" várias vezes. E esse foi o meu favorito sem dúvidas. Amei o relacionamento de Han e da Raisa crescendo, mas ao mesmo tempo se modificando para caber naquele lugar e naquelas pessoas. Eu senti muito a dor do Han em todas as passagens que ele se sentia traído e com ciumes.
E a Raisa se torna um pouco mais complexa, mostrando que nem sempre ela pode fazer o que quiser, já que o reino precisa dela. E é muito legal ver como ela realmente se importa com as coisas erradas no reino e não se importa em apontar isso, mesmo que seja perigoso para ela.
O Amon foi um pouco menos presente nesse livro, mas quebrou meu coração. A gente sabe o que precisa acontecer e mesmo não querendo que ele e a Raisa fiquem juntos mais, senti aquela dor quando vemos alguém que já amamos demais seguindo com sua vida sem a gente.
O novo casal Dancer e Cat aparece pouco também, mas são tão fofos que eu queria ter visto mais! Pode escrever um spin-off só deles? Pode sim. Também vemos mais dos clãs, revemos alguns membros de Ragmarket e os Gray Wolf de Amon.
Acho que os elementos de romance, enredo rápido, ação, mistério e intrigas me fez gostar muito desse livro. Me deixou muito animada para terminar a série e ler mais coisas escritas pela Cinda Williams Chima.

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